sábado, 29 de março de 2008

"ATRÁS DE CADA OLHO ROXO EXISTE UM HOMEM FROUXO!"

Maria da Penha homenageada com seu nome na Lei Federal nº 11.340, que impõe mais rigor na punição à violência doméstica, a bioquímica cearense Maria da Penha participou de debate com mulheres paranaenses na quarta-feira 7, na Câmara de Vereadores de Curitiba. Acompanhe, a seguir, entrevista exclusiva com Maria da Penha, feita pela imprensa da CUT-PR.
CUT-PR - Uma pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo, em 2001, revelou que cerca de 20% das mulheres brasileiras sofrem a chamada agressão branda, em forma de tapas e empurrões. Com a Lei 11.340, você acredita que esse percentual possa cair?
Maria da Penha - Quando a violência começa com um tapa ou empurrão, ela tende a se agravar. Se as mulheres realmente tiverem o apoio que a lei prevê, com certeza o agressor será conscientizado. Assim, a estatística sobre mulheres assassinadas e violentadas vai diminuir.
CUT-PR - Além da aplicação efetiva da Lei que leva seu nome, o que mais é preciso para coibir a violência contra as mulheres no Brasil?
Maria da Penha - A lei por si só não vai resolver muita coisa. Tem que haver implementação de mais delegacias, casas abrigos e juizados para que a população sinta que existem mecanismos reais de combate à violência. Até existem essas instituições, mas a quantidade ainda é muito pequena em relação ao número de denúncias.
CUT-PR - "Atrás de cada olho roxo existe um homem frouxo" foi uma declaração sua divulgada na imprensa. A covardia masculina é impulsionada pelo fato de o homem ter vantagem física sobre a mulher ou está mais relacionado ao alcoolismo ou ciúme?
Maria da Penha - violência contra a mulher está relacionada à força física, ao machismo e à idéia que o homem tem de que é superior a mulher. Essa idéia está se desfazendo, e, com o trabalho desenvolvido pelas mulheres que militam contra a violência doméstica, tenho certeza que esse pensamento discriminatório vai acabar.
CUT-PR - O que passa na cabeça das mulheres nos momentos em que são agredidas?
Maria da Penha - Muita revolta, porque nos sentimos não merecedoras disso e realmente não merecemos esse tratamento brutal e medieval. A discussão entre um casal deve ser através do diálogo e não na base da porrada.
CUT-PR - De que forma é possível recuperar a dignidade das mulheres violentadas?
Maria da Penha - mulher agredida deve procurar instituições sociais, como os centros de referência, as entidades de mulheres organizadas e até a própria delegacia da mulher, que não é só local de denúncia, para se interar sobre seus direitos e também a respeito do que ela tem a seu favor no combate à violência com a nova lei.
CUT-PR - Na sua visão, qual a importância dos movimentos feministas organizados na sociedade?
Maria da Penha - As vitórias e conquistas de nós mulheres sempre se dão através da luta dos movimentos sociais. A atuação dessas entidades é fundamental para organização e justiça sociais.
CUT-PR - Você se tornou um símbolo contra a violência doméstica no Brasil. Seu exemplo de luta já está consolidado, e agora, quais são seus planos?
Maria da Penha - Estou sendo requisitada para estar presente em vários locais, sempre levando meu relato e experiência no combate à violência contra a mulher. Eu não tenho parado de viajar, onde chego sempre ressalto que o movimento de mulheres não deixou de lutar. Temos agora um desafio muito maior, que é a efetiva implementação das políticas públicas previstas na lei.
CUT-PR - Que mensagem você deixa para as ativistas feministas que lutam diariamente contra a violência doméstica e pela igualdade?Maria da Penha - ue nós precisamos continuar com nossa luta, para cada dia melhorar mais a situação da mulher, principalmente daquelas que vivem em regiões longínquas, onde o acesso à informação ainda é muito difícil, logo, onde ocorrem mais casos de violência doméstica.

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