segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

ENTRE A CRUZ E A PISTOLA

Crime
Suspeito de assassinar pai e madrasta, Gil Rugai estudava teologia, foi seminarista, tinha desenhos de suástica e gárgulas no quarto, fez curso de tiro e comprou uma arma do mesmo calibre da que vitimou o casal
Jonas Furtado e Rodrigo Cardoso
Divulgação
Luiz Carlos e a segunda esposa, Alessandra, com quem era casado há cerca de 10 anos: o empresário levou três tiros e a mulher, quatro
Gil Rugai é um jovem de 20 anos que morava com
o pai e a madrasta numa casa de classe média-alta, com piscina e sala de ginástica, avaliada em R$ 2 milhões, em Perdizes, São Paulo. Religioso, calado e retraído, assim Gil era visto pela vizinhança. Filho de Luiz Carlos Rugai e Maristela Greco, ambos de 40,
que foram casados por cinco anos e estavam separados há 15, Gil cursou um ano de teologia na Escola Dominicana de Teologia e ia aos domingos à missa. “Uma das últimas vezes que o vi foi na missa da igreja Nossa Senhora de Fátima. Estava no meio dos padres, vestido como eles”, conta José Tavares de Souza Jr., vizinho dos Rugai. “Ele ajudava na celebração das missas e, mais jovem, foi chefe dos coroinhas”, confirma o frei Ives Terral.
No domingo 28 de março, entre 21h e 22h, o pai de Gil, dono de uma produtora de vídeos e filmes para publicidade, e a mulher, Alessandra de Fátima Trotino, 33, com quem Luiz Carlos estava casado há cerca de 10 anos, foram mortos a tiros na casa de Perdizes. No local, policiais do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) levantaram evidências que revelam um outro lado de Gil Rugai – provavelmente conhecido por poucos, mas suficiente para colocá-lo como o maior suspeito do crime. “O quarto dele é muito esquisito. Tem desenhos de suástica e de gárgulas e garrafas de vinho espalhados”, conta um policial do caso. “Gil estendeu uma carreira de pó branco, não sabemos se se tratava de cocaína, numa máquina de xerox, aproximou o rosto, como se fosse cheirá-la, e fez 15 cópias. Encontramos as folhas numa gaveta, no quarto dele. Ele não queria ser padre!”
Nilton Fukuda/ AE
“A gente tem certeza de que,
se o Gil tiver alguma coisa
com isso, foi influenciado por alguém”, diz Agnaldo Souza
Silva, funcionário da produtora
Jovem pacífico, que circulava de camisa com os botões fechados até o pescoço – às vezes de suspensório ou sobretudo –, herdeiro de uma fortuna, segundo os policiais, estimada em R$ 15 milhões, Gil foi seminarista. Na casa de Perdizes, porém, foram encontrados nota fiscal da compra de uma arma, certificado de curso de tiro – todos em nome de Gil – e estojo deflagrado de uma pistola 380, o mesmo calibre que alvejou três vezes Luiz Carlos e quatro, Alessandra. “A 380 não é arma de defesa, mas de ataque. Por que ele faria um curso de tiro, se é pacífico? Quais influências fariam Gil cometer um crime?”, questiona um investigador do caso.
Para a polícia, o criminoso conhecia o funcionamento da casa. Gil foi expulso de casa cinco dias antes do crime, dias depois de o pai descobrir um desfalque de R$ 100 mil na produtora, onde o filho foi responsável pelo setor financeiro – era a madrasta quem ocupava, agora, o cargo. Em novembro, Gil abriu uma produtora com o amigo Rudi Otto Kretschmar, um lutador de jiu-jítsu, ultimamente sua companhia constante, segundo amigos. Uma testemunha relatou à polícia que viu Gil e um rapaz circulando nas proximidades da casa na noite do crime. “A gente tem certeza de que, se o Gil tiver alguma coisa com isso, foi influenciado por alguém”, diz Agnaldo Souza Silva, funcionário da produtora.
Alessandra morreu primeiro, próxima da porta dos fundos. Recebeu um tiro tangencial no braço esquerdo, próprio de quem se defende. Sua camiseta estava chamuscada, o que indica que o matador estava bem próximo. Ao ouvir os tiros, Luiz Carlos se trancou na sala de vídeo, que foi arrombada, a pezadas – na porta, restou a pegada de um sapato social. Luiz Carlos morreu no corredor. Na secretária eletrônica, depois do crime, Gil gravou uma mensagem ao pai: queria passar em casa para retirar os pertences. No dia seguinte, foi até a igreja Nossa Senhora de Fátima e marcou, para o sábado 3, a missa de sétimo dia. Só não compareceu porque teve a prisão preventiva decretada um dia antes.

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