sexta-feira, 1 de março de 2013

O que o corte de cabelo tem a ver com sua liberdade?


Uma coisa muito comum de se ver são mulheres que mudam o corte de cabelo ou sua cor ao fim de um relacionamento ou etapa de sua vida. Mudar o cabelo é uma tentativa de exteriorizar quem é você nesse novo momento. Assim como a escolha das roupas, acessórios e a maneira de se portar.
Dizem que o cabelo é a moldura do rosto e que influencia muito a autoestima feminina – e masculina também. Quando seu direito de fazer o que você bem entende com uma parte do seu corpo é negado, tem algo errado aí. E quando você descobre os motivos dessa proibição tudo fica ainda mais claro.
Mas do que é que estou falando? De algumas regras norte coreanas que foram divulgadas nos últimos dias: mulheres devem escolher entre 18 cortes de cabelo pré-aprovados pelo governo e homens devem ter cabelos de até cinco centímetros de comprimento – mas, se você for idoso, o governo quebra um galho e libera que você tenha até sete centímetros.

A explicação de tudo isso é ordem. Um país só fica bem com seu regime de governo se não tiver a influência de outros lugares. Na Coreia do Norte a intenção é manter todo mundo quietinho num regime ditatorial, sem influência da cultura ocidental.
Só que no meio desse discurso de proteção da cultura do país surge a explicação real desaprovação de diretos: tratar mulheres como posse. Os cortes de cabelo tem uma subdivisão do que é indicado para mulheres solteiras e mulheres casadas.
As solteiras podem ter cabelos mais longos e ondulados, usar tranças e rabos-de-cavalo – olha aí o papo de ir contra a cultura ocidental caindo por terra, de onde viriam os cabelos ondulados? -, mas as casadas devem manter o cabelo mais curto, senão são desaprovadas pela sociedade.
É como se você usasse uma daquelas plaquinhas de “vendido” que americanos adoram colocar na frente dos imóveis. Com tal corte de cabelo todo mundo sabe que você saiu do mercado e tem um dono.
Esse tipo de manobra de controle não existe apenas por lá e nem é culpa do socialismo – modelo de governo adotado na Coreia do Norte. O mesmo princípio existe no judaísmo, mas por ser uma religião, os motivos dessa “lei” são muito mais etéreos e sublimes – para quem segue a crença, é claro.
Assim que uma mulher judia ortodoxa casa ninguém mais pode ver seu cabelo. Por isso elas costumam usar perucas caríssimas e lindas, com cabelos perfeitos e sempre incrivelmente arrumados. O único que pode ver o cabelo da mulher casada é seu marido. Em troca, a mulher receberia bênçãos de saúde e prosperidade ao seu lar e sua família, especialmente na educação de seus filhos.
De acordo com alguns estudiosos da religião, isso acontece porque Deus (D'us, para eles) colocou o valor da mulher em seu interior e é importante que a beleza feminina não seja cobiçada. Para protegê-la existem as perucas – e não a crença de que o homem deve, simplesmente, respeitar a mulher casada, claro.
A mulher, para eles, deve cobrir o cabelo como forma de mostrar seu comprometimento com seu marido, não atrair olhares de outros homens e ainda mostrar sua modéstia, uma qualidade importantíssima entre os religiosos. Além disso tudo, a peruca é uma maneira da mulher lembrar, o tempo inteiro, que é casada com aquele homem – o que, pra mim, cheira a repressão.
E quando você lê sobre as outras regras não fica com mais nenhuma dúvida sobre a ligação da liberdade dos cabelos e a liberdade sexual: homens e mulheres não podem se tocar, apenas quando estão casados; namorados não podem se tocar ou beijar, apenas se conhecerem e o resto acontece depois do casamento; e para fechar com chave de ouro, métodos contraceptivos são proibidos – menos nos casos em que o rabino dá essa permissão.
Na sociedade ocidental isso, por mais absurdo que pareça, acontece. Muita gente acha que mulheres de cabelo curto não prestam, são menos femininas e moderninhas demais na sua vida sexual, enquanto mulheres de cabelos longos são o oposto. A ligação entre cabelo, liberdade sexual e erotismo pode ser vista desde o antigo Egito, onde perucas eram adereços sexuais e designavam poder, classe social e despertavam admiração e inveja.
Você toparia que alguém decidisse por você o que fazer com seu cabelo e sua vida amorosa e sexual?

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